Samu tem 90% das motos fora das ruas de SP
Polícia Rodoviária Federal admite que faltam instrutores para cursos de direção defensiva
Ao menos cinco meses após o Ministério da Saúde doar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da cidade de São Paulo 80 motocicletas capazes de prestar atendimento de socorro a vítimas, apenas 10% delas estão nas ruas prestando esse serviço à população.
A maior parte das chamadas motolâncias (60) está guardada em uma garagem na zona norte da capital à espera de que profissionais sejam qualificados pela prefeitura e pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) para dirigi-las, conforme a reportagem do R7 apurou com funcionários do Samu.
A reportagem verificou no final de fevereiro passado e na última semana que cerca de 20 motos estavam paradas em garagem da coordenação do Samu, na zona norte da capital.
Em uma das ocasiões, o R7 ouviu de funcionários que as motolâncias estavam paradas ali há cerca de um ano e que, em razão do longo tempo sem uso, as baterias teriam sofrido danos.
Cerca de 20 motolâncias estão paradas em depósito da coodernação da Samu, na zona norte da capital, por falta de curso para motoristas – Foto R7
O coordenador do serviço, Paulo Kron, nega que os veículos estejam danificados, mas confirma que só oito motolâncias estão atualmente em atividade na capital.
Elas atendem apenas quatro das 65 bases de São Paulo, nas quais o Samu recebe maior número de chamados.
Kron diz que o Samu depende de cursos de direção defensiva oferecidos pela Polícia Rodoviária Federal para colocar as motos nas ruas.
Depende do Ministério da Saúde e da Polícia Rodoviária Federal.
A PRF precisa atender todo o Brasil, mas, se a gente [Samu da capital] tiver turmas formadas de maneira mais rápida, é evidente que haverá mais motos nas ruas.
E podemos fazer apenas o curso da PRF, porque ele é recomendado pelo ministério e vai garantir a segurança dos meus funcionários.
A PRF, por sua vez, afirma que o número de instrutores não é suficiente para capacitar todos os profissionais do país.
Até agora, segundo a Secretaria de Saúde da capital, foram dados três cursos no ano passado (em agosto, novembro e dezembro), nos quais 17 auxiliares de enfermagem com habilitação especial para motocicletas (tipo A) foram aprovados.
Mas, nos cinco primeiros meses deste ano, só um curso foi oferecido durante março e abril.
A expectativa da Samu era colocar quatro novas motolâncias, a partir da última segunda-feira (19), guiadas pelos funcionários formados no último curso.
Entretanto, até a publicação desta reportagem, nenhuma decisão havia sido tomada.
A previsão do Samu é de que 60 motos prestem atendimento até o final deste ano.
As outras 20 serão usadas como reserva.
O coordenador do serviço confirmou informação apurada pela reportagem de que as motos ainda não usadas estão guardadas em garagem da DTT (Divisão Técnica de Transportes) da Prefeitura de São Paulo, na rua Voluntários da Pátria, em Santana (zona norte), e em porão da coordenação da Samu da região norte, que fica no número 592 da avenida Álvaro Machado Pedrosa, no Tucuruvi, também na região norte.
Kron diz que as 80 ambulâncias foram recebidas do Ministério da Saúde entre agosto e novembro de 2009.
O órgão federal não informou até a publicação desta reportagem quando as motos foram repassadas para a capital paulista.
Sem contar as oito motocicletas que já estão nas ruas, as 52 motolâncias que serão usadas para o atendimento da população e que ainda estão paradas representam quase metade do total de ambulâncias distribuídas para todo o Estado pelo ministério.
O investimento total foi de R$ 1,7 milhão só na capital.
Sobre os cursos, o Ministério da Saúde afirma que a PRF “está disponível para ministrar aulas a todos os profissionais de saúde da cidade de São Paulo; a capital foi, inclusive, tratada como prioridade para a realização do curso da polícia, tendo em vista as condições do tráfego das grandes cidades”.
A pasta, que padroniza e estabelece as condições para o uso das motolâncias, diz que o Samu poderia procurar alternativas para a capacitação dos auxiliares de enfermagem que vão atuar nas motolâncias para colocá-las com mais agilidade nas ruas.
Juliano Leite, chefe da divisão de fiscalização de trânsito da PRF, diz que os instrutores da polícia não dão conta de treinar todos os profissionais do país e que, por isso, na próxima semana será formalizada uma mudança no curso.
Ao invés de treinarmos os condutores, vamos formar instrutores para que eles ministrem aulas dentro da própria Samu.
Ainda segundo Leite, foram ministrados cinco cursos no Estado e, no primeiro, cerca de “60% dos funcionários da Samu do Estado de São Paulo foram reprovados”, o que explicaria o baixo índice de condutores aptos a dirigir as motocicletas.
Chance de sobrevivência
Na prática, as motolâncias servem para driblar o trânsito de São Paulo e chegar antes das ambulâncias convencionais para prestar o primeiro atendimento a vítimas, principalmente quando há risco de morte.
O Samu afirma que as motolâncias reduzem pela metade o tempo do primeiro atendimento: de 16 minutos com as ambulâncias para oito minutos com as motocicletas.
Dependendo da situação, os primeiros minutos após acidente ou agravamento de um problema de saúde podem ser determinantes para a sobrevivência do paciente, explica Augusto Scalabrini, professor de emergências clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Em casos de parada cardíaca, cada minuto perdido representa 10% a menos de chances de sobrevida.
Os dois auxiliares que rodam em cada uma das oito ambulâncias da cidade são treinados, como exemplifica Kron, para fazer reanimação cardiorrespiratória, imobilizar coluna fraturada ou atender a paciente com convulsões.
A prioridade máxima são casos envolvendo problemas no coração e cérebro.
Os funcionários do Samu que atendem com as motolâncias deixam a vítima estabilizada e pronta para ser levada para o hospital pelas ambulâncias.
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