sábado, 26 de dezembro de 2009

Parabéns ao vice presidente José Alencar e dona Mariza !!

Casada há meio século com José Alencar, Mariza Gomes da Silva fala dos sustos "terríveis" com o câncer que quase o matou, do tumor de mama que enfrentou -e das brigas que os dois têm para mandar no controle da TV. Na foto, Mariza Gomes da Silva como vice-presidente da República José Alencar em foto tirada do baú do casal mineiro
O ano não foi nada fácil para Mariza Gomes da Silva, 74, mulher do vice-presidente, José Alencar, 78, com quem é casada há 52 anos, tem três filhos e cinco netos. No primeiro semestre, depois de passar por uma cirurgia de quase 20 horas, ele foi para os EUA e chegou a ser desenganado. Uma junta médica considerou seu câncer, na região abdominal, irreversível. Em meio ao turbilhão avassalador, ela descobriu um tumor na mama. Há um mês, colocou um marca-passo. O fim do ano, no entanto, trouxe boas novas: os tumores de Alencar, para surpresa de seus próprios médicos, começaram a diminuir. Preparando-se para um Natal "de reflexão e de reafirmação desse compromisso maior de humanidade e de amizade", ela falou à coluna:
"MAMÃE, SE PREPARE"
Eu só tenho que agradecer a Deus, mesmo tendo passado por muitos problemas. O José esteve ontem fazendo exames. Além do sangue estar maravilha, eles [os médicos] não conseguiram encontrar tumor no exame de toque, manual. O último exame de imagens já tinha mostrado uma diminuição absurda do tumor. Ele tinha profundidade e agora está fininho como papel. A circunferência, que era de 14cm, veio para 5cm e já deve estar em um. Os tumores menores, todos sumiram.
É um milagre. Ele foi desenganado, não só aqui como nos EUA. O Josué [Gomes da Silva, filho caçula do casal] falou comigo: "Mãe, a senhora tem que se preparar". Eu falei [em tom de bronca]: "Mas quem falou com você sobre isso?". E ele: "Os médicos dos EUA, mamãe. Eles fizeram uma reunião e falaram claro com o papai e comigo". Eu falei: "Os médicos? Será que eles conhecem quem tá lá em cima?". Quando o tumor começou a desaparecer, ele falou: "É, mamãe. A senhora tem uma fé...". E eu: "É claro que tenho, meu filho. Nossa Senhora está o tempo todo perto de mim."
CÂNCER DE MAMA
É incrível. Eu fazia todos os anos a mamografia, a ressonância, tudo direitinho. Passei dois anos sem fazer os exames por causa justamente dessa correria com ele [o marido]. Quando fiz, pá! Eu tinha câncer.
Eu fui fazer uma mamografia no hospital Albert Einstein e fui para o Sírio-Libanês buscar o José. Ele estava fazendo quimio. Eu estava chegando no quarto, o doutor Ricardo Peres, meu médico clínico, me liga: "Dona Mariza, a senhora tem que voltar aqui agora". Eu falei: "O senhor está brincando comigo? Eu daqui já estou indo para o aeroporto". Ele falou: "Não, estou falando sério. A imagem não está boa, nós vamos ter que fazer uma biópsia." Eu falei: "Não é possível!". Disse para o José: "Enquanto você termina, eu vou lá".
Pedi para chamar o doutor João Carlos Sampaio Góes, mastologista que já havia tratado da minha filha, da minha neta. A biópsia comprovou que era, e ele disse para mim: "Já está marcada a operação para sexta-feira". Era uma terça. Eu falei: "Nem pensar. Mas de jeito nenhum. Eu tenho que voltar para Brasília, tenho várias coisas para resolver."
Vou te dizer o que me causou mais choque. O médico me disse: "Às vezes a gente tem que tirar a mama. Se isso for necessário, nós vamos fazer as duas, por causa do equilíbrio. Depois, se refaz". Então, quando falou isso... não foi por causa do fato de tirar a mama, mas de falar que eu teria que ficar com os dois braços presos por não sei quanto tempo. Eu falei: "O senhor não me conhece. Eu vou entrar em depressão. Eu não consigo que ninguém faça alguma coisa pra mim. Eu não sei pedir nada. Eu sou igualzinha ao meu pai". E eu disse: "Só vou concordar em fazer a cirurgia se o senhor prometer que não vai mexer na mama direita". Mas não foi preciso tirar nenhuma delas.
Quando a mulher pensa que vai tirar a mama, qual é a realidade para ela? Se for solteira, pensa que ainda vai casar. Se for casada, é aquele choque de ficar sem mama perto do marido. Mas, depois de 52 anos de casada, eu não podia ficar preocupada com isso. E ainda comentei: "O José já tem muita cicatriz. Ele não vai se importar com a minha cicatriz".
O choque maior para ele [Alencar] foi que a cirurgia era um risco para mim. Mas eu acredito que ele ficou inseguro. Porque, em todas as cirurgias dele, quem ficava com o José o dia inteiro, sem enfermeira, era eu. Ele, naturalmente, me disse: "Vai correr tudo bem". Mas as meninas [Maria da Graça e Patrícia, filhas do casal] viram, na hora em que fui para a operação, que lágrimas desceram.
A HORA DO MEDO
Depois da cirurgia que demorou 20 horas [em janeiro, quando Alencar retirou nove tumores da cavidade abdominal], a que mais me preocupou foi quando ele teve que tirar a vesícula [em 2004]. Nós estávamos no Rio e José passou mal (...) voltamos para SP e ele foi operado em situação de emergência. Ele estava entrando na cirurgia. Quando olhei, ele estava verde. Eu levei um susto horroroso. Tive que rezar mais do que nunca porque acreditei que ele não fosse escapar.
Há cinquenta anos, fiz a promessa de nunca mais usar joias [caso Alencar se curasse do câncer]. E sempre tive tanta certeza de que Nossa Senhora o protege que em hora nenhuma questionei Deus sobre por que [o câncer] estava voltando. Porque todas as vezes que houve um problema, tivemos tempo hábil para resolvê-lo. Aprendi que a gente entrega para Nossa Senhora e espera. Entrega a Deus e espera. Nunca tive medo [de que ele morresse neste ano]. Em hora nenhuma, te digo sinceramente.
Qualquer mexida do José na cama, eu acordo. Ele brinca: "Bem, vê a minha febre". Porque eu logo vou com a boca na testa e dou beijo. "Não, você tá sem febre." E brinca com a Maria da Graça: "Filha, vê a febre do papai". Ela dá beijo na cabeça dele, e ele fica feliz.
Ele ficou muito carente e sensível depois da doença. Outro dia, vimos em casa "Música e Lágrimas" [cinebiografia de Glenn Miller]. O José se emocionou de tal maneira que desciam lágrimas. Você sabe, um filme antigo, que nós vimos jovens... Ele vê a vida dele toda passar junto, né? Ele tem feito muita reflexão sobre a vida.
A CARA DA MORTE
Quando foi desenganado, ele começou a se preparar, conversando com o Josué sobre negócios. A preocupação dele era com as pessoas que ajudava. E foi falando de um por um para o Josué. Depois que passou isso tudo, eu brinquei: "Engraçado, José, você só pensou naquelas pessoas que ajuda. E não falou nem em mim nem nas filhas". E ele: "Vocês estavam muito bem cuidadas. Não precisavam".
A FAMÍLIA
De nossos três filhos, o Josué é o mais pé no chão. Mas as meninas estavam apavoradas com a ideia de perder o pai. Choravam muito, muito. Eu tinha que administrar a emoção de cada um e a minha emoção. Eu falava com Nossa Senhora: "A senhora sempre esteve ao meu lado. Mas agora a senhora tem que me enrolar no manto. Eu não tenho mais condições".
APOIO PSICOLÓGICO
Aos 48 anos, eu tive uma depressão violenta quando perdi a minha mãe [Carmen]. Ela teve câncer. Morava comigo e passou por uma situação terrível. Ela teve osteoporose, quebrou a perna, usava andador. Além disso, tive um descontrole hormonal. Houve um descontrole terrível e fui a um psicólogo para poder desabafar. Eu tinha medo de pular da janela de tanta aflição que eu tinha. Mas hoje o meu apoio psicológico é o da fé, total e única.
A VIDA SEM O MARIDO
A gente sabe que tem menos tempo junto do que aos 20 anos de casados. Eu brinco muito com ele, por causa de ouvir menos, de a vista não ser mais a mesma. "Bem, nós temos que nos conformar, estamos velhos." E ele: "Você é que está, eu não!". Eu sei que tanto ele quanto eu vamos uma hora.
Temos um casamento de 52 anos. É uma cumplicidade muito grande. Mas é claro que todo casal tem algumas desavenças. Como ele diz, eu brigo por causa do controle remoto. E brigo mesmo! Aqui em casa tem mais de uma televisão. Eu queria ver a novela "Caminho das Índias".
"Cê" pensa que ele me deixava sair do quarto? Não! Tem que ficar perto dele. "Eu deixo "cê" ver a novela, bem." Eu começava a ver a novela, e ele: "Ô, bem, deixa eu só ver a manchete [dos telejornais]?" E manchete do que? Da GloboNews! Ele já tinha visto as notícias mais cedo, nos outros telejornais. Que história é essa? Mas o José tem que ver a notícia das sete da manhã, da hora do almoço, das oito da noite, e depois quer Globo News. Não há quem aguente! Agora não tô vendo mais novela pra não ter mais briga.
DIETA
Dieta? De jeito nenhum ele segue. A única coisa que o José sempre aceitou foi tomar remédio no horário. Mas me deu muito problema no início porque ele tinha que ler a receita, ter certeza de que aquele remédio era para ele, que a dosagem estava correta, entendeu?
Mas comida... e o tal do golo [gole]! Você não pode imaginar! Ele não pode, mas, de vez em quando, acaba de sair da quimioterapia e toma o golo. Ele adora. Sai da quimioterapia, vem pra casa. Chega um ministro e ele logo manda servir um uísque. E também coisa que ele não pode: o tal do salaminho! Então, é uma luta, uma briga.E logicamente o doutor Raul [Cutait, um dos médicos de Alencar] sempre liberava. O doutor Paulo [Hoff, oncologista], não. Só que nunca teve coragem de falar: "Presidente, o senhor não pode". Ele dizia: "Dona Mariza, tem que segurar". "Mas, doutor Paulo, por que o senhor não fala diretamente com ele?"
TEU ÚNICO DEFEITO
O José até falou uma vez assim: "Ó, se por um acaso existir reencarnação, a única coisa que eu vou pedir a Deus é que me dê uma mulher que tome um golo comigo!". Porque eu não bebo de jeito nenhum. A única coisa que ele diz ser o meu defeito é o de não tomar o golo com ele.Da coluna de Mônica Bergamo

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